Mesmo alguns escoceses admitem que o whiskey — seguiremos a grafia irlandesa — deva ter sido inventado mesmo na Irlanda. Esses mesmos escoceses costumam dizer: “ainda que o whisky possa ter sido inventado na Irlanda, nós, escoceses, o aperfeiçoamos e o levamos ao status de um drink mundial”. O que é uma verdade, pois os os produtores irlandeses não adotaram inicialmente os destiladores em coluna, confiantes em que eram da qualidade do destilado que produziam nos seus alambiques de cobre (pot stills). Isso deu uma vantagem adicional aos produtores escoceses, que puderam conquistar o mercado com a vasta produção de whiskies Single Grain saídos dos destiladores de coluna, que seriam usados posteriormente na produção de whiskies Blended.
O fato é que o whiskey irlandês teve sua época dourada por volta de meados do século XIX até a imposição da Lei Seca, em 1919, nos EUA, que refreou a importante fonte de demanda proveniente da comunidade irlandesa radicada nesse país.
Atualmente estamos vivenciando um ressurgimento do whiskey irlandês no mercado global, e um dinamismo maior de sua indústria. Porém, diferentemente da Escócia, a produção ainda está concentrada em apenas quatro destilarias: Bushmills (a mais antiga do mundo, fundada em 1608), Cooley, Kilbergan e Midleton (superdestilaria capaz de produzir todos os quatro tipos de whiskies irlandeses). Na época áurea (cerca de 1880), existiam 28 destilarias em atividades produzindo whiskey irlandês, e muitas delas usando o processo de dupla destilação, comum na Escócia hoje em dia.
A legislação irlandesa de 1980 estabeleceu linhas gerais para o que se pode considerar whiskey irlandês, mas não entrou em detalhes quanto a aspectos de produção. Dessa forma, de acordo com o ato de 1980, whiskey irlandês tem de respeitar duas leis básicas: 1) ser produzido e envelhecido por no mínimo três anos em barris de carvalho na Irlanda, ou na Irlanda do Norte, e 2) sair dos destiladores com no máximo 94.8% de ABV.
A falta de regras mais específicas (diferentemente do whisky escocês) permite uma maior flexibilidade na hora de definir o processo de produção. Entretanto, como regra geral, o Irish Whiskey é destilado triplamente (o que o torna mais leve e suave que o whiskey escocês) e não enfumaçado. Uma exceção a essa regra geral seria o Single Malt irlandês Connemara Peated, que é duplamente destilado a partir de cevada maltada e secada em fornos com peat, que dão o seu sabor enfumaçado.
Existem quatro tipos de whiskies irlandeses:
Irish Singe Malt – Produzido em alambiques de cobre (pot stills), apenas de cevada maltada, em uma única destilaria (assim como os Single Malts escoceses). Exemplos: Bushmill, Connemara e Tyrconnell.
Pure Pot Still – Produzido em alambiques de cobre (pot stills) a partir de cevada maltada e cevada não maltada, esta última responsável por fornecer um sabor condimentado, frutado e oleoso ao whiskey. A invenção do Pure Pot Still decorreu mais de uma necessidade econômica, já que o governo, em meados do século XIX, começou a taxar o malte. Normalmente, a proporção de cevada não maltada oscila entre 20% e 60% nesses whiskies. Exemplos: Green Spot e Redbreast.
Irish Single Grain – É o whiskey produzido normalmente de milho, em destiladores de coluna (column still), em uma única destilaria. Exemplo: Greenore.
Irish Blended – O Blended irlandês é a combinação do Single Grain com um Single Malt ou um Pure Pot Still, ou com ambos. Exemplos: Jameson, Kilbeggan, Midleton, Powers e Tullamore Dew.