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Ilustre Desconhecido — Dewar’s White Label

Por “O Cão Engarrafado”

Vou contar algo para vocês. Adoro Velozes e Furiosos. E não estou falando só do último filme, Furious Seven, que presta homenagem a Paul Walker. Gosto de todos. E ainda que eu utilize como pretexto minha paixão por automóveis, a verdade é outra. Acho os filmes divertidíssimos.

Gosto, inclusive, daquele que se passa no Brasil. Quer dizer, que em tese se passa no Brasil. Adoro aquela cena de perseguição entre Crown-Victorias da Polícia Civil (!), dois Dodge Charger e um cofre enorme, que se passa em uma ponte. Aliás, essa ponte parece ser qualquer coisa, menos a ponte Rio-Niterói. Realmente, é impressionante o trabalho de pesquisa que a galera de Velozes e Furiosos fez antes de produzir o filme.

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É preciso coragem para assumir esse mau gosto. Porque, na verdade, a maioria dos filmes da franquia é péssima. Eles são mal dirigidos, mal produzidos e bem bregas. E ainda que alguns atores sejam ótimos, no geral, a atuação é horrível. Exceto pela Gal Gadot. A Gal Gadot não precisa atuar.

Mas mais coragem ainda é necessária para assumir meu gosto — ou melhor, respeito — discutível pelo whisky Dewar’s. E não estou falando do Dewar’s Signature, ou do 18 anos. Aliás, não estou falando nem da versão de 12 anos, que é um whisky bem razoável. Não. Refiro-me ao Dewar’s White Label. Mas não me julgue ainda. Continue lendo.

O Dewar’s White Label é a prova que marketing funciona. Na verdade, não. O contrário disso. Ele é a prova de que a ausência de marketing não funciona. É que ele é o blended whisky mais consumido nos Estados Unidos. Lá não há nenhuma fama ruim ligada ao Dewar’s — ainda que ele custe quase o equivalente a um almoço para dois no McDonald’s. Por lá, a Bacardi investiu pesado em propaganda, inclusive veiculando anúncios durante o Superbowl, espaço publicitário mais caro do mundo. Além disso, produziu peças publicitárias ótimas, com excelentes atores, como Claire Forlani (a mocinha de “Encontro Marcado” e “Reflexos da Inocência”) e com Sean Connery, que, com uma cara ambígua, diz uma frase ótima: “algumas coisas envelhecem. Outras, amadurecem”.

Mas por aqui, por conta da completa ausência de propaganda, aliada à contestável aparência da garrafa e ao preço baixo, o whisky ficou, diremos, famigerado.

É até irônico, isso. Porque como ele é barato e relativamente desconhecido por aqui, ninguém fala dele. Por conta disso, ninguém o experimenta também. Afinal, pouca gente ficaria intrigada por algo barato e desconhecido. E isso é ainda mais irônico porque o perfil de sabores do Dewar’s casa perfeitamente com o da maioria dos brasileiros. Um whisky leve, com toque cítrico e bem fácil de ser bebido. Além disso, ele é um dos poucos whiskies que melhora significativamente quando tomado com pedras de gelo, a forma mais comum do brasileiro beber whisky.

O Dewar’s White Label é um blended whisky sem idade definida, composto por mais de quarenta whiskies, entre single grains e single malts. Seu principal malte é o Aberfeldy, produzido pela destilaria homônima das highlands. Além dele, o Dewar’s White Label leva os single malts Aultmore, Craigellachie e Royal Brackla, todos pertencentes ao grupo Bacardi.

Uma característica curiosa e incomum do processo de produção do Dewar’s é conhecida como Double Ageing. Neste processo, o blend, depois de composto, é devolvido a barricas de carvalho, para que passe mais seis meses, antes de ser engarrafado. De acordo com a atual master blender da marca, Stephanie MacLeod, esse processo torna o whisky mais harmônico e equilibrado.

Sean concorda

O White Label é também um dos blended whiskies mais antigos do mundo. Em meados do século dezenove, John Dewar foi a primeira pessoa a engarrafar — em vasilhames de vidro — blended whiskies, para venda. Em 1899, seu filho, também chamado John, e proprietário da destilaria Aderfeldy, criou, com a ajuda do master blender A. J. Cameron, aquele que seria o blended whisky mais famoso da Dewar’s, o White Label.

Durante sua vida secular, o Dewar’s White Label recebeu mais de cem premiações. As mais atuais incluem medalha de ouro pela Scotch Whisky Masters, medalha de prata pela Spirit Design Masters, e medalha de prata na International Wine and Spirits Competition, todos recebidos no ano de 2014.

Ainda que o White Label não seja o melhor whisky para quem está buscando complexidade, com profundidade e corpo e caráter, ele é provavelmente um dos melhores whiskies para ser tomado em situações casuais. Ou seja, as melhores situações. Nesse sentido, ele é quase como Velozes e Furiosos. Fácil e divertido, mas sem a cara do Vin Diesel. É um whisky que está pronto para agradar a todos. Basta que lhe seja concedida uma chance.

DEWAR’S WHITE LABEL

Tipo: Blended Whisky sem idade definida
Marca: Dewar’s
ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: Floral, com mel e amêndoas.
Sabor: Sabor leve, de mel e baunilha. Final médio e doce.
Com água: Com agua, o whisky fica ainda mais floral, e o final ainda mais curto.

“O Cão Engarrafado” é Maurício Porto, advogado e colecionador de whisky. Seu interesse pelo destilado nasceu após uma viagem à Escócia, onde conheceu várias destilarias e o processo de fabricação de seus whiskies. Participou ainda de diversos cursos sobre a bebida, muitos organizados pela Single Malt Brasil (SMB) e pela Wine and Spirit Education Trust (WSET) de Londres. Assina o blog homônimo, “O Cão Engarrafado” (www.ocaoengarrafado.com.br).

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