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Fatores que Influenciam o Sabor do Whisky — Parte 3: A Turfa

Por Michel Hansen

Continuando a série “Fatores que influenciam o sabor do whisky”.

De todos os fatores que influenciam o aroma e o sabor do whisky, a turfa certamente é o mais característico e evidente.

Antigamente, boa parte dos whiskies escoceses eram “turfados”, em consequência do uso da turfa na secagem da cevada maltada. Com o tempo, fontes alternativas para realizar esta secagem foram surgindo e a turfa, pouco a pouco, deixada de lado. Como resultado, os whiskies também foram se tornando cada vez menos “enfumaçados”.

Os whiskies de sabor fortemente defumado ficaram um tanto fora de moda já que a preferência dos apreciadores caminhou na direção de destilados mais suaves e frutados. O que vemos hoje, entretanto, é o ressurgimento de um forte interesse nos whiskies enfumaçados.

A turfa nada mais é do que o acúmulo de matéria vegetal parcialmente carbonizada, normalmente encontrada em áreas alagadas e húmidas. Estes “pântanos” começaram a se formar há cerca de 10.000 anos e podem chegar a 10 metros de profundidade.

Na Escócia, as turfeiras abrangem mais de 12% do total do território. Depois de ser retirada, cortada e seca é usada como combustível em algumas atividades. Na indústria do whisky a aplicação está em seu uso para gerar os vapores quentes que secarão a cevada, interrompendo assim o seu processo de germinação artificial.

Com baixo poder calorífico, a turfa possui alto teor de umidade e quando queimada gera uma fumaça que seca parcialmente o malte e o impregna com um aroma defumado característico, também chamado de aroma turfoso. A duração do processo de secagem da cevada maltada, a partir de fornos com turfa, é que ditará a intensidade dos sabores e aromas “enfumaçados” encontrados em um whisky.

As substâncias que dão sabores e aromas defumados ao malte são chamadas fenóis e medidas em partes por milhão (ppm). Whiskies com forte sabor defumado, como Lagavulin e Laphroaig, têm cerca de 35 ppm de fenóis. Já o Ardbeg, ainda mais “turfado”, tem aproximadamente 50 ppm. O malte mais enfumaçado já produzido é o Octomore, da destilaria Bruichladdich, com uma concentração de 167 ppm de fenóis.

Recentemente, a procura pelos whiskies defumados tem aumentado. Como reflexo do interesse dos aficionados em obter um sabor marcante para o seu whisky, algumas destilarias retomaram a tradição de usar a turfa na secagem da cevada. Estão produzindo, dessa forma, uma bebida que remete às origens da produção de whisky, com aromas e sabores terrosos, fuliginosos, defumados e de alcatrão.

Os whiskies enfumaçados e turfados têm uma legião de fãs no mundo inteiro, mas seus sabores e aromas podem ser um desafio aos apreciadores menos experientes e iniciantes.

Michel Hansen
Atuando na área de tecnologia, seu interesse em se aprofundar no encantador mundo do whisky começa em 2011. Desde então, Michel Hansen vem procurando estudar e conhecer todos os detalhes sobre essa grande bebida. Assina o Blog “Desvendando Whisky” (www.desvendandowhisky.blogspot.com.br).

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Whisky também é combustível

Por Gustavo Angelucci Nogueira

O Dr. Martin Tangney, professor da Universidade de Napier, disse que a indústria do whisky de malte escocês é “um recurso maduro” para o desenvolvimento de biobutanol, um biocombustível de nova geração que se estima gerar até 30% mais de energia que o etanol brasileiro (forte concorrência para o nosso álcool).

Uma nova empresa já foi até formada para comercializar a produção de biocombustíveis feitos a partir dos subprodutos do whisky.

A Celtic Renewables Ltd foi inaugurada oficialmente no Campus de Sighthill Napier pelo Ministro de Energia britânico Fergus Ewing, que declarou: ”… utilizar os subprodutos de nossa indústria do whisky como matéria-prima para um biocombustível sustentável ​​que será usado para abastecer os carros de nossas famílias é o exemplo de pensamento inovador que a Escócia precisa…”.

Whisky Como Combustível

Dr. Martin Tangney

Doug Ward, fundador da produtora de biocombustível Argent Energia, foi nomeado como presidente da start-up, o que tem garantido o investimento privado de Donald Houston, co-proprietário da Destilaria  Adelphi.

O processo de produção do butanol tem um “enorme potencial global” já que pode ser adaptado a outros subprodutos biológicos. E a Celtic Renewables está trabalhando agora com a Scottish Enterprise para a produção do biocombustível em escala industrial.

O Biobutanol é fabricado a partir de dois principais subprodutos da produção de whisky — pot ale, que é o resíduo líquido do mosto fermentado, e de borras deixadas em alambiques de cobre. E cada ano a indústria produz 1.600 milhões de litros de pot ale e 500.000 toneladas de borras.

Em contraste com o etanol, o butanol pode ser utilizado em motores a gasolina sem nenhuma modificação e também misturado ao diesel ou biodiesel.

Há um tempo atrás Oz Clarke and James May, apresentadores da TV britânica, colocaram um carro para rodar com o Bruichladdich X4 (4 vezes destilado e 92% ABV). Confira no vídeo.

Parece que o whisky não é apenas combustível para corações e mentes. Que veículo você gostaria de ser nesse momento?

Gustavo Angelucci Nogueira
Sócio Proprietário da Tech9 — Inovações Tecnológicas e da Bio-TI — Sistemas e automações, empresas voltadas para o agronegócio e usinas de bioenergia.
Iniciou sua paixão pelo whisky em 2003 e de lá para cá vem colecionando histórias e sabores. Assina o Site/Blog Whisky Magazine Brasil (www.whiskymagazine.com.br)

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Islay, a Ilha do Whisky (e o Yellow Submarine) — Parte III

Por Alexandre Campos

Ao chegar a Port Ellen, fui recebido no pequeno hotel (com honras de Estado…) pelo dono, Harold Hastie. Acho que não é todo dia que um brasileiro aparece perambulando pela ilha.

Harold e sua esposa Margaret são nativos de Islay e donos do “The Grange Guesthouse”, um charmoso “B&B” em Port Ellen. Harold é também pescador e membro da guarda costeira de Islay. Uma figura lendária e divertida que me fez várias perguntas sobre como é a vida no Brasil.

Nossa interessante conversa se prolongou por várias horas. O papo era regado por excelentes Single Malts que Harold ganha de seus amigos das destilarias de Islay, e de outras regiões da Escócia. A popularidade de Harold é tão grande em Islay que três Single Malts foram produzidos em sua homenagem, o mais famoso deles batizado de “Yellow Submarine”. Trata-se de uma edição especial de 12.000 garrafas da Bruichladdich, outra destilaria de Islay, lançada em 2005 em comemoração a um incidente muito interessante ocorrido na ilha.

Harold Hastie exibindo as garrafas em sua homengem

 

Harold começa a contar a história que o deixou ainda mais famoso no lugar.

Em meados de 2005, a marinha de guerra britânica fazia um treinamento tático na costa de Islay quando, por puro esquecimento, deixou para trás seu caro e importante mini-submarino. Operado por controle remoto e usado para detectar minas, o equipamento foi apelidado de “Yellow Submarine”, dada a cor amarela e a semelhança com o desenho imortalizado junto à famosa canção dos Beatles.

We all live in a Yellow Submarine, Yellow Submarine...

Por obra do destino, o “Yellow Submarine” foi encontrado justamente pelo meu anfitrião Harold, que o rebocou até o jardim da sua casa. Avisada por ele do achado, a marinha britânica não deu a menor bola para o feito e, em princípio, recusou-se a admitir que havia perdido o equipamento (que custa ao redor de R$ 1.5 milhão).

Não tinha dúvida de que estava ali ouvindo uma legítima história de pescador, mas essa verdadeira, pois inúmeras doses de whisky depois, Harold me dizia: “Alex, aqueles idiotas da marinha não quiseram admitir o erro. O “Yellow Submarine” ficou mais de 3 meses no meu jardim e virou até atração turística. Eu me divertia com os nossos habituais turistas japoneses vindo até aqui para tirar fotos…”.  Dada a fama do “Yellow Submarine” e o interesse da imprensa no caso, a marinha não teve outra saída senão assumir o erro e resgatar o aparelho do quintal de Harold. Foi um dos melhores casos que já ouvi na vida!

Na tarde do dia 29 de Agosto de 2010 Harold me deu carona até o hotel Lochside, na vila de Bowmore onde eu iria passar a noite. O bar do hotel Lochside tem mais de 300 diferentes Single Malts, todos de Islay. Um convite irresistível para alguém que, como eu, gosta de um pouco de fumaça no whisky.

We all live in a yellow submarine, yellow submarine, yellow submarine. We all live in a yellow submarine, yellow submarine, yellow submarine…

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O Master Distiller e Comus, o filho de Baco

Apresentamos anteriormente o Single Malt Comus da Bruichladdich.  Na mitologia grega, Comus é o filho de Baco com Circe, a feiticeira especializada em venenos. Mas o Comus da Bruichladdich não tem nada da sua mãe, e sim do seu pai. Uma perfeita combinação entre os maltes turfados da Bruichladdich envelhecidos nos prestigiosos e raros barris de vinho do Chateaux d’Yquem.

No vídeo a seguir, Jim McEwan, Master Distiller da Bruichaladdich, explica em detalhes o que esperar dos belíssimos aromas e sabores encontrados nesta grande edição limitada de sua destilaria que é o Octomore Comus 4.2

Apesar do Octomore Comus não estar disponibilizado ainda, outras excelentes versões do Bruichladdich podem ser encontradas em nosso mercado.

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Comus, o filho de Baco

Na Escócia e Irlanda usa-se muito barris usados de vinho Jerez e vinho do Porto para se envelhecer whisky. A destilaria Macallan, por exemplo, construiu sua reputação e fama mundial ao envelhecer seus Single Malts apenas em barris de vinho Jerez (os chamados Sherry Casks).

A Glenmorangie é outra renomada destilaria escocesa que gosta de barris de vinho e vem realizando várias experiências chamadas de cask finish, que significa maturar o whisky em barris exóticos de vinho, como Sauternes e Super Toscano, por exemplo, por um período adicional de cerca de 6 meses.

A destilaria Bruichladdich não fica atrás e também vem inovando nesse sentido, e acaba de lançar o Octomore Comus 4.2. Para quem não sabe, o Octomore é a série de Single Malt mais peated do mundo. Sendo que o peat é uma espécie de intermediário entre turfa e carvão usado por algumas destilarias, principlamente as de Islay, nos fornos que secam a cevada maltada. O peat é, dessa forma, impregnado ao malte, conferindo um aspecto enfumaçado peculiar ao whisky.

Mas o interessante do Octomore Comus 4.2 não está nos 167ppm de fenóis que conferem seu status de Single Malt mais enfumaçado já produzido, mas sim no seu envelhecimento total em prestigiosos e raros barris do caríssimo vinho Chateaux d’Yquem. O resultado é um belíssimo whisky que mescla excepcionalmente bem os sabores enfumaçados do malte de Islay com a elegância e os sabores adocicados de pêssego, laranja mel e damasco do vinho Sauternes.

O Octomore Comus ainda não está disponível no Brasil, mas outras excelentes versões do Bruichladdich podem ser encontradas no nosso mercado.

A propósito, Comus é filho de Baco com Circe!

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