Conforme matéria veiculada pelo jornal Folha de São Paulo, um estudo realizado na ESALQ/USP buscou comparar a cachaça ao whisky e cognac.
A pesquisadora Aline Marques Bortoletto criou uma cachaça nos laboratórios do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da ESALQ/USP. Ela foi avaliando a cachaça em várias etapas de sua maturação desde 2012 e submeteu a bebida a uma bateria de análises quÃmicas e de cor, aroma, sabor e teor alcoólico.
A medida que a cachaça envelhecia era comparada a 20 diferentes marcas de whisky e cognac nos aspectos analisados. Tudo muito criterioso e acadêmico.
O resultado foi bastante interessante. Com apenas 1 ano e meio de maturação a cachaça superou os whiskies e cognacs em todos os aspectos pesquisados. Isso não quer dizer, entretanto, que a cachaça seja “superior” aos outros dois destilados, mas apenas que ela conseguiu: i) extrair mais componentes da madeira que impactaram positivamente a bebida e ii) adquirir menos contaminantes.
Somos um dos primeiros a valorizar nosso belo destilado, porém, cabem ressalvas de nossa parte ao estudo em questão. A primeira é em relação a “amostra”. Seria pertinente perguntar se as 20 versões escolhidas pela pesquisadora representam whiskies e cognacs de qualidade. Sabemos, por exemplo, que whiskies do tipo single malt apresentam normalmente caracterÃsticas de aroma e sabores superiores aos blendeds. Assim como existem cachaças de qualidade duvidosa, existem também whiskies e cognacs de má qualidade.
A segunda ressalva está na questão do envelhecimento. A cachaça “controlada” em laboratório na ESALQ foi maturada em barris de primeiro uso de carvalho francês e americano. E é notório que o carvalho é a melhor madeira para envelhecimento de destilados, ainda mais o de primeiro uso que tem maior capacidade de impactar positivamente a bebida que barris de segundo e terceiro uso. E como ficam as cachaças envelhecidas em outras madeiras, que são a maioria no mercado?
A terceira ressalva é saber se nossos produtores conseguem reproduzir em uma escala maior o ambiente controlado do laboratório da ESALQ/USP.
Em que pese nossos questionamentos, achamos o estudo interessante e importante no aprimoramento de nossa grande bebida. Ao contrário do que muitos pensam, a cachaça tem sim um lugar garantido entre os melhores destilados do mundo. Quando produzida de forma correta e  bem envelhecida ela está, sem dúvida, no mesmo patamar de belos whiskies, cognacs e rums.
O passo a passo do estudo da pesquisadora Aline Marques Bortoletto, conforme publicado na Folha de São Paulo.