http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2013/09/130905_gelo_milenar_whisky_gm.shtml
Publicado na BBC Mundo
Pode até parecer estranho, mas gelo é uma das coisas mais procuradas e apreciadas por militares, cientistas e até mesmo turistas que visitam a Antártica.
Mas não é qualquer gelo. O que todos procuram é o gelo formado há milhares de anos e que, de acordo com seus apreciadores, é um complemento ideal para um bom uÃsque “on the rocks”.
O gelo milenar se diferencia do resto dos blocos brancos que flutuam nas águas da Antártica por ser mais escuro e compacto, lembrando um diamante negro.
A cor escura também seria um reflexo da escuridão do oceano, já que esses blocos milenares de água congelada são cristalinos.
O gelo milenar se formou com sucessivas camadas de neve que foram se compactando por milhares de anos, formando extensas geleiras.
Iguaria
O gelo milenar é mais transparente que o normal, porque não possui muitas bolhas de ar em seu interior, o que lhe garante uma textura mais lisa.
No Chile, dizem que alguns bares chegam a cobrar o dobro por um drinque com o gelo milenar.
Na Antártica, os militares “pescam” os blocos de gelo com grandes gruas – guindastes – que estão acopladas aos navios da Marinha.
O gelo então é apreciado em momentos de lazer, quando os marinheiros estão de folga, para brindar com amigos e a famÃlia quando estão em terra firme.
Os turistas também consomem o gelo milenar em passeios turÃsticos, encantados com a possibilidade de tomar a água congelada com a qual os dinossauros se banharam.
Os adeptos da iguaria recomendam tratar o gelo com delicadeza, utilizando uma lâmina fina bem afiada para cortar o gelo bem devagar. O objetivo seria retirar blocos regulares de gelo, não muito pequenos, que derretem mais devagar num copo com bebida.
Negócio lucrativo
O consumo de gelo milenar não é restrito apenas às terras austrais. Em 1988, reportagem do jornal americano The New York Times mostrava como o comércio de gelo glacial estava se tornando um negócio atrativo, principalmente em regiões como o Alasca.
Lá, o gelo milenar não serve apenas para acompanhar os drinques gelados, mas também para produzir cerveja, vodca e água engarrafada.
Em cidades americanas como Los Angeles e Nova York existem empresas especializadas em fornecer o gelo milenar de alta qualidade para festas exclusivas de celebridades.
Mercado negro
Em janeiro de 2012, a imprensa internacional noticiou o roubo de 5,2 toneladas de gelo do glaciar de Jorge Montt, no Parque Nacional Bernardo O’Higgins, no Chile.
A polÃcia suspeitou à época que o carregamento, avaliado em US$ 6 mil (cerca de R$ 14 mil), tinha como destino os bares de luxo, algo que nunca foi confirmado.
“Tivemos um outro caso no ano passado na cidade de Puerto Aysén”, explicou à BBC Mundo Oscar Rosas, chefe nacional de crimes contra o meio ambiente do Chile.
“Nessa oportunidade, investigamos extrações no parque Laguna de San Rafael. No Chile, todos os parques nacionais são protegidos e resguardados por brigadas especiais para fiscalizar crimes que podem afetar o ecossistema”, explicou Rosas.
“Ainda não conseguimos informações suficientes sobre se o gelo (do parque Laguna) é mesmo utilizado em bares de luxo. É difÃcil saber o destino (desse material)”, complementa.
Apenas gelo
Apesar da fascinação com o gelo milenar, as palavras do glaciólogo croata-chileno Cedomir Marangonic desmontam parte do mito em torno do assunto.
“PoderÃamos dizer que se derrete um pouco mais devagar, mas, ainda assim, não é muito diferente de um gelo de 20 anos de idade”, explica.
“Na realidade, não existem diferenças, exceto na densidade e com relação a impurezas. O gelo glacial tem impurezas que são trazidas pelo vento.”
De qualquer forma, Marangonic afirma que consumo do gelo milenar é seguro e não é capaz de causar nenhum dano à saúde de quem o consome.
Acima de tudo, destaca o glaciólogo, o gelo milenar não é muito diferente do gelo normal, exceto pelo romantismo de sua história.
“No Chile, dizemos que é um um esnobismo (o ato de consumir gelo glacial), uma forma de mostrar que se tem algo diferente.”