As mulheres e a economia estável fazem o consumo de uísque premium crescer mais de 70% no País. A mistura de ingredientes cria um novo jeito de degustar a bebida
Por Fabiano Mazzei, IstoÉ Dinheiro
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/124838_REVOLUCAO+ON+THE+ROCKS
Se o uísque for, realmente, o melhor amigo do homem, uma espécie de cachorro engarrafado, como dizia o poetinha Vinicius de Moraes, os brasileiros estão cada vez mais chamando o precioso líquido escocês de totó. Só nos últimos quatro anos (2008-2012), o consumo de rótulos vindos da Escócia cresceu 72% por aqui, segundo a Scotch Whisky Association. São bebidas sofisticadas, com mais anos de vida em barris de carvalho — pelo menos 12 — e, por consequência, mais caras. O novo amigo dos bebedores brasileiros, portanto, é um produto de procedência garantida, com carimbo no passaporte e, de preferência, vestindo kilt. Beneficiado pela estabilidade econômica e, consequentemente, com mais dinheiro no bolso, o brasileiro passou a experimentar mais a bebida.
Com maior oferta de rótulos premium, o segmento de topo cresceu 11% em 2012 no Brasil. Muito, em um mercado que consome anualmente 24,5 milhões de litros da bebida e movimentou R$ 1,8 bilhão no ano passado. Segundo dados da consultoria Nielsen, as vendas de garrafas importadas cresceram 27% em 2012, contra uma diminuição de 5% entre os rótulos nacionais. A tradução disso é que o brasileiro está cada vez mais ligado nos maltes estrangeiros. Uma questão de status? “Mais do que isso. O uísque traz sofisticação à imagem porque mostra um paladar mais apurado de quem o toma”, diz Álvaro Garcia, diretor de marketing para scotch da Diageo Brasil. Para ele, a bebida, atemporal e que nunca sai de moda, vive um momento especialmente favorável no Brasil.
No conglomerado francês Pernod Ricard, dono do scotch Chivas Regal, os números também são positivos. De 2010 para cá, o mercado brasileiro representou 42% de todo o aumento de consumo do uísque deles no mundo. Há um outro fator, além do econômico, que tem feito a bebida ingressar na lista das mais pedidas no mercado nacional: o paladar feminino. Em 2012, 14% dos consumidores de uísque no Brasil eram mulheres, segundo a Nielsen. Quase o dobro da fatia do ano anterior. “Elas estão descobrindo o sabor mais leve desses blends e já não torcem o nariz na hora de beber”, afirma Eduardo Rotella, embaixador da Chivas Regal no Brasil. A sommelier Alexandra Corvo concorda.
Dona da escola Ciclo das Vinhas, em São Paulo, ela dá aulas mensais de degustação de uísque há um ano e diz que a metade de seus alunos é composta por mulheres. “É um sucesso!”, diz Alexandra. “Elas saem da aula encantadas com os aromas e acabam com o velho preconceito que tinham com a bebida.” A criatividade dos bartenders também ajudou a apresentar a bebida a elas. Usar o uísque em coquetéis, misturando com frutas, água de coco e outros ingredientes, tornou os maltes escoceses mais populares para a turma que usa ruge e batom. Essa constatação levou o chef Benny Novak, do restaurante paulistano ICI Bistrô, a criar um menu dedicado especialmente aos drinques que combinam o uísque com cubos de gelo flavorizados.
“A ideia surgiu da minha percepção do interesse dos mais jovens e das mulheres também”, afirma Novak. No cardápio, criado a quatro mãos com o mixologista Márcio Silva, existem opções como o gelo feito com especiarias, com açaí ou com maracujá. Como se poderia prever, os puristas condenam esses voos criativos. “Acho um sacrilégio. Ainda mais quando você conhece a origem e o trabalho que dá para se chegar àquele sabor”, diz Rotella, que promove jantares harmonizados com uísque em restaurantes estrelados de São Paulo, como o Fasano, o Piselli e o Parigi. Nessas ocasiões, são os sabores dos pratos que se misturam indiretamente aos blends, como se faz com vinhos. Novak defende a inventividade presente nos seus drinques. “É uma maneira de fazer com que o iniciante se torne um verdadeiro bebedor de uísque”, afirma.